"Esporte traz dignidade para atletas refugiados", diz enviado especial da ONU

Publicado em Entrevista & Opinião no dia 11/08/2016

Em entrevista concedida à Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o presidente honorário do COI e também enviado das Nações Unidas, Jacques Rogge, afirma que as Olimpíadas ‘são um mundo novo e seguro para refugiados, onde eles são as estrelas’.

Os dez atletas que participam da inédita Equipe Olímpica de Refugiados devem superar seus próprios limites e não se preocupar em ganhar medalhas. A participação do time nas Olimpíadas do Rio passará a mensagem de que “os refugiados são cidadãos comuns que devem ser tratados como tal”.

Esta é a opinião do presidente honorário do Comitê Olímpico Internacional (COI) e enviado especial do secretário-geral da ONU para Refugiados, Jovens e Esportes, o belga Jacques Rogge.

Ele está no Brasil para acompanhar os Jogos e conversou com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) sobre a equipe, uma iniciativa do COI que está atraindo a atenção de todos.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao ACNUR:

Como os integrantes da Equipe Olímpica de Atletas Refugiados estão se sentindo, alguns dias após a chegada no Rio de Janeiro?

Jacques Rogge – Eles estão tendo o momento de suas vidas. Estes são dias que nunca vão esquecer. Trata-se de um novo mundo, um mundo seguro e no qual eles são as estrelas.

Recentemente, o sr. visitou campos dos refugiados e assentamentos de deslocados internos. Como se sente agora, com a Equipe de Atletas Refugiados aqui no Rio?

Jacques Rogge – O fenômeno dos refugiados é uma mancha na reputação da sociedade. Eles são pessoas jovens em sua maioria e têm o direito de serem considerados como cidadãos normais. A chance de competir nos Jogos do Rio é algo fantástico .

O sr. vê algo em comum entre os jovens refugiados que encontrou durante as suas visitas?

Jacques Rogge – Eles são fãs de esportes. Nas missões que fiz com o ACNUR, há sempre um jogo de futebol ou de basquete. Eles têm uma paixão por esportes, é o sonho deles. E é nosso dever introduzir esportes em campos de refugiados, construir infra-estrutura e oferecer programas de educação e formação. E isso representa muito para o bem-estar dos atletas .

O que esperar da Equipe de Atletas Refugiados? E do público que acompanhará as Olimpíadas?

Jacques Rogge – Da equipe, espero que atinjam seus próprios limites. Não pedimos que eles conquistem medalhas de ouro, mas pedimos que atinjam seu limite e tentem se superar. O público vai adorar o desempenho dos refugiados. Eles vão se tornar uma equipe muito popular. Não ficaria surpreso se – com a exceção do Brasil, que é equipe anfitriã – a equipe dos atletas refugiados seja a mais aplaudida e aclamada.

Qual será a mensagem mais forte a ser passada pela Equipe Olímpica de Atletas Refugiados nos Jogos Rio 2016?

Jacques Rogge – Os refugiados devem ser considerados como cidadãos normais, tratados como tal e devem ter os mesmos direitos. Esta é uma mensagem muito importante. Podemos ver que, através do esporte, os refugiados podem ganhar muita dignidade.

Essa iniciativa vai continuar?

Jacques Rogge – Junto com o ACNUR, continuarei visitando campos de refugiados e avaliando as possibilidades de atividades esportivas, com os investimentos necessários. Há uma relação muito forte entre o COI e o ACNUR – há mais de 20 anos , em 46 países. Em relação à equipe, vamos recrutar uma geração mais jovem depois desta e apoiar continuamente os refugiados.

Poderia mencionar alguns resultados que espera para o futuro em relação a jovens refugiados e esportes?

Jacques Rogge – Primeiramente, que os jovens atletas tenham a possibilidade de praticar esportes. Em segundo lugar, que haja igualdade de gênero, assegurando que garotas jovens tenham a possibilidade de praticar atividades esportivas.

Que papel efetivo o esporte tem para acabar com os conflitos e promover a paz?

Jacques Rogge – Acho que o esporte não pode fazer tudo no mundo. Mas o esporte definitivamente pode criar uma atmosfera de paz e respeito mútuo. Então, as pessoas provenientes de diferentes grupos étnicos, regiões, línguas e culturas podem viver juntos, de forma pacífica e amigável.

Por Luiz Fernando Godinho, do Rio de Janeiro

Fonte: ONU Brasil

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