Especialista em sustentabilidade, Ricardo Young, comenta os benefícios de incluir essa estratégia nos negócios da empresa

Sustentabilidade

Publicado em Entrevista & Opinião no dia 07/02/2017

Conselheiro em diversas companhias e empresário, Young diz que hoje não é possível criar um negócio que não contemple as necessidades dos seus stakeholders.

Por Karen Pegorari Silveira

Grandes conquistas alavancaram a gestão sustentável nos últimos anos, mas ainda é preciso internalizar uma gestão multistakeholder, onde a visão sistêmica e incorporadora integre as várias dimensões da governança responsável. Essa é a visão de Ricardo Young, um dos grandes especialistas quando a questão é sustentabilidade empresarial.

Atualmente Young aconselha grandes companhias como a Fibria, Amata, Kimberly-Clark e Planeta Sustentável (Abril). Também é membro do conselho do Instituto Ethos e UniEthos, Todos pela Educação e Instituto Akatu. É ex-presidente do Yázigi Internexus, da Associação Brasileira de Franchising e do Instituto Ethos. Ainda é articulista do jornal Folha de São Paulo e da revista Carta Capital, além de membro do Conselho Superior de Responsabilidade Social (Consocial), da FIESP e vereador de São Paulo pelo Partido Verde (PV).

Em entrevista, o profissional comenta o que as empresas precisam saber sobre a nova forma de governança coorporativa e o que um grande líder sustentável precisa ter em mente.

Leia a seguir a entrevista na íntegra:

Na sua opinião, qual seria o resultado de um balanço do desenvolvimento da discussão sobre sustentabilidade nas empresas, na primeira década do século XXI?

Ricardo Young - A década de 2000 representou um grande salto das empresas em relação à Responsabilidade Social Empresarial, porque foi quando se criaram os mecanismos para essa gestão, com destaque para o GRI 4, o Global Compact, o ISO 26000 e indicadores Ethos. Além disso, tivemos um salto de governança graças ao novo patamar de transparência criados pelo IBGC e pela Bolsa de Valores.

Ainda no contexto do desenvolvimento dessa discussão, qual o papel da liderança dentro da empresa para incorporar essa discussão de sustentabilidade na estratégia?  Quais os principais benefícios que a empresa pode perceber desde o início dessa jornada?

Ricardo Young – De nada adianta ter ferramentas de gestão sofisticadas se a gestão não entende o que é uma gestão multistakeholder, sistêmica e incorporadora das várias dimensões da sustentabilidade. É como colocar um motorista comum para dirigir um carro de Fórmula 1! A maioria dos líderes ainda entendem essas ferramentas como compliance e não como uma nova forma de gestão. O papel do líder é entender esse contexto, em que as ferramentas integram uma nova governança, além de catalisar os talentos e criar oportunidades para as novas gerações participem o que tem de melhor na construção de novas formas de gestão.

Os benefícios vão desde a economia de insumos e eficiência energética até a redução dos passivos não-tangíveis ou ignorados; a valorização de elementos fundamentais, como a questão da salubridade no ambiente de trabalho; um branding cujo valor vai além da avaliação convencional dos seus ativos e, ainda, uma maior resiliência às crises. Além disso tudo, os produtos também estão se tornando menos onerosos, graças aos redesenhos e lançamentos impulsionados pela discussão da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Quais serão, na sua visão, as megatendências da gestão sustentável para os próximos anos?

Ricardo Young – A precificação do carbono e a penalização das empresas que forem perdulárias no uso de água e energia, uma vez que os recursos ficam mais escassos. Outro desafio é intensificação das pesquisas tecnológicas, na busca de novos materiais para indústrias como a da informática, automobilística e também da construção civil.

A gestão da sustentabilidade mostrou que as externalidades precisam ser consideradas no negócio. Sendo assim, as empresas hoje devem considerar na sua gestão, não só os riscos ambientais como ter uma estratégia de relacionamento com comunidade de entorno. Que dica você daria aos empresários que começaram a enxergar essa necessidade?

Ricardo Young – Hoje eu não iniciaria um negócio que já não contemplasse as necessidades da comunidade no seu business plan. Aliás, até esse mecanismo deve ser impactado por essas mudanças, já que hoje um plano de negócios não contempla os multistakeholders. Quanto antes se visualiza isso, antes se lida com essas questões, que já são amortizadas no negócio. O desafio é ser eficiente dentro de um mundo de recursos naturais escassos.

Em sua opinião, qual o papel das empresas na construção de uma sociedade melhor?

Ricardo Young – As empresas são gestoras de recursos e ao mesmo tempo supridoras de necessidades. As empresas podem criar condições para a sociedade caminhar na direção da sustentabilidade, conforme se mostram capazes de entregar um produto com custo ambiental cada vez menor, compensando sua pegada ecológica com criação de serviços ambientais. A Política de Resíduos Sólidos foi importante para isso, porque nos obrigou a pensar o consumo do berço ao berço.

Assim como o tema da sustentabilidade, a educação no Brasil evoluiu muito nos últimos anos, porém, ainda temos um longo caminho a ser percorrido.  Que aspectos você acredita que devemos considerar para desenvolvermos um modelo de educação para sustentabilidade?

Ricardo Young – Um dos maiores erros conceituais da educação para a sustentabilidade é pensá-la como algo que ocorre somente nas escolas, quando na verdade ela demanda quase que uma reeducação da sociedade para um novo pacto: a relação da economia com a natureza e dos agentes, públicos e de mercado, sobre os serviços ambientais. Então, ela é um conceito que deve permear todos os processos de capacitação: em empresas, escolas, mídias e no setor público.

A revolução da qualidade na década de 80 mostrou o que significa uma realfabetização de toda uma cultura organizacional; o desafio da sustentabilidade não é menor. Ao ter qualificado milhares de empresas para competir intencionalmente, o Brasil pôde ser comparar aos melhores do mundo. Como a educação para a sustentabilidade não faz parte do mundo conhecido dos negócios, não é feita ou, pelo menos, não é bem feita. Mas precisa ser feita, pelo líderes.

Qual conselho você deixaria aos novos “líderes sustentáveis” que estão começando agora?

Ricardo Young – As melhores habilidades de um líder sustentável é compreender para qual direção o mundo está mudando e qual suas necessidades. O pensar sistêmico, a gestão muktistakeholder, a ética e transparência como balizadoras da melhor revelação dos talentos de uma empresa, a mobilização da inteligência coletiva, o entendimento de processos caóticos e, por fim, a capacidade de gerir planejamentos dinâmicos fazem parte dos requisitos que um líder deve ter.

O conceito de Bauman de que tudo se torna líquido não é diferente para as empresas: elas precisam ser fluídas. Sua resiliência não pode se dar na direção da rigidez, mas justamente da fluidez. Afinal, diante de cenários novos e desafiadores, é preciso ter capacidade de ajustes rápidos e com baixo impacto ambiental. Só pode acontecer com a mobilização da inteligência coletiva de equipes conectadas e engajadas.

Fonte: FIESP

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