Mortes violentas no Brasil: perguntas e respostas

Paz e Justiça

Publicado em Entrevista & Opinião no dia 26/09/2017

Uma pessoa morre a cada 8 minutos no Brasil. Por ano, são quase 60 mil homicídios. Mas quais são as causas de toda essa violência? Veja algumas premissas e as respostas para elas, dadas pelos pesquisadores David Marques e Roberta Astolfi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e por especialistas do Núcleo de Estudos da Violência da USP.

1) As mortes ocorrem principalmente em regiões tomadas pelo tráfico, que é o que gera a violência que existe hoje no Brasil?

Não existe uma associação direta entre tráfico e violência. São Paulo, por exemplo, estado com a menor taxa de homicídios do Brasil, é também o principal mercado de drogas do país.

Estudos apontam uma relação entre competição e violência. Quando grupos rivais disputam mercados, têm acesso a armas de fogo e lidam com governos politicamente fracos, a violência é maior. É o que ocorre em estados das regiões Norte e Nordeste. Em São Paulo, o mercado é regulamentado por um único grande grupo criminoso.

2) Grande parte das mortes é resultado de tentativas de roubo?

O percentual de mortes provocadas em assaltos é baixo em relação ao total de homicídios. Em 2015, foram 2.314 casos de roubos seguido de morte, entre 58.467 mortes violentas, o que representa pouco menos do que 4% do total.

3) A maior parte das vítimas da violência é negra e pobre, resultado da desigualdade social?

De cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. A chance de um negro ser vítima de homicídio é 23,5% maior que a de pessoas de outras raças/cores. Em estados no Norte e Nordeste, o abismo é ainda mais profundo. Em Sergipe, por exemplo, a taxa de homicídios entre negros é de 73 por 100 mil habitantes, enquanto que a de brancos é de 13 por 100 mil.

A desigualdade social é importante para compreender a concentração, já que os homicídios se concentram em bairros com desvantagens sociais concentradas – com boa parte de moradores negros. O preconceito e o estigma social e racial acabam direcionando contra estes grupos controles excessivos por parte das instituições de segurança e Justiça do estado, resultando muitas vezes em violência policial e aprisionamentos arbitrários.

Além disso, diversos estudos sugerem que o sistema de justiça criminal opera de forma seletiva, priorizando casos que atraem atenção da mídia e cujas vítimas são brancas ou de classe média.

Fonte: G1

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