Perguntas e respostas sobre a Febre Amarela

Saúde

Publicado em Entrevista & Opinião no dia 30/01/2018

O surto de febre amarela ocorrido em vários municípios de Minas desde o início deste ano tem gerado uma série de dúvidas entre a população. Neste post, pesquisadores do Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR) apontam as principais perguntas que vêm sendo feitas nos últimos dois meses e esclarecem, de forma didática, os questionamentos.

Foto: Ministério da Saúde

A febre amarela apresenta vários sintomas. Quais são as manifestações da doença em suas fases branda e grave?

A febre amarela é uma doença aguda febril, com sintomas considerados inespecíficos, como febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos, por cerca de três dias. A forma mais grave da doença é menos comum e costuma aparecer após um breve período de bem-estar (até dois dias), quando podem ocorrer insuficiências hepática e renal, icterícia (olhos e pele amarelados), manifestações hemorrágicas e cansaço intenso. Podem ocorrer ainda hemorragias gastrointestinais que comumente se manifestam como evacuação de fezes negras e vômito negro de sangue digerido. A insuficiência renal, caracterizada pela anúria (déficit da produção de urina), e a insuficiência hepática são complicações comuns.

 

Os sintomas da febre amarela podem ser confundidos com os de outras doenças? É necessário fazer o diagnóstico diferencial para evitar dúvidas?

Os sintomas da febre amarela podem ser confundidos com outras infecções agudas febris. O diagnóstico das formas leve e moderada é difícil, pois pode ser confundido com outras doenças infecciosas do sistema respiratório, digestivo ou urinário. Formas graves com quadro clínico clássico ou fulminante devem ser diferenciadas de malária, leptospirose, febre maculosa, febre hemorrágica do dengue e dos casos fulminantes de hepatite.

 

Como é feito o diagnóstico da febre amarela?

O diagnóstico da febre amarela pode ser clínico, epidemiológico e laboratorial. O diagnóstico pode ser confirmado por detecção de antígenos virais e do RNA viral, além de sorologia com captura de IgM em ensaio enzimático, o MAC-ELISA em pessoas não vacinadas ou com aumento de quatro vezes ou mais nos títulos de anticorpos pela técnica de inibição da hemaglutinação (IH), em amostras pareadas. Em casos fatais, sem tempo para obtenção de amostras in vivo, faz-se detecção de antígenos específicos por imunohistoquímica em tecidos.

 

O vírus da febre amarela apresenta mutações?

O vírus da febre amarela e o vírus vacinal apresentam uma grande estabilidade genética. Estudos atuais estão sendo desenvolvidos para verificar se os surtos de febre amarela atuais podem estar associados a possíveis mutações genéticas no vírus. Até o momento, não detectamos mutações.

 

O vetor que transmite a doença, na área silvestre, é o mosquito Hemagogus. Especialistas estão preocupados com o avanço da doença e com a possibilidade da expansão dela para a área urbana, onde seria transmitida pelo Aedes aegypti. Que impacto sanitário a entrada da febre amarela, na área urbana, causaria? A população está correndo esse risco?

A febre amarela urbana foi erradicada no Brasil nos anos 40. Embora exista o risco de reurbanização da doença, até o momento, nenhum caso urbano, de transmissão pelo Aedes Aegypti foi identificado.

 

Qual a origem do recrudescimento da febre amarela, no Brasil? Pode-se atribuir ao desequilíbrio ambiental parte da responsabilidade pela epidemia?

A área de circulação do vírus da febre amarela, considerada de risco transmissão para seres humanos, vem crescendo de forma progressiva desde 2000. Mapas disponíveis no site do Ministério da Saúde mostram claramente essa expansão ao longo dos anos. Certamente, o processo de desmatamento com consequente desequilíbrio ambiental, aliado ao aumento do ecoturismo e da construção de moradias em áreas próximas a matas, tem contribuído para o aparecimento de epidemias de febre amarela, com surtos registrados a cada cerca de 7 anos.

 

A população tem uma poderosa arma contra a febre amarela, que é a vacina. Muitas pessoas moradoras de áreas onde há a predominância da doença não estão buscando as unidades de saúde para se vacinar. Por que isso acontece? Falta uma campanha educativa mais intensa para conscientizá-las sobre a necessidade da vacinação?

A vacina contra a  febre amarela é produzida pela Fiocruz e é disponibilizada na rede publica de saúde de forma gratuita para a população. Não existem campanhas de vacinação contra essa doença. A vacinação é mandatória no calendário de vacinação infantil em diversos estados da federação. Em adultos, a imunização deve ser buscada de forma voluntária em unidades de saúde, que trabalham em escala de rotina, não havendo campanhas de vacinação regularmente. Em casos de surtos, o Ministério da Saúde estabelece campanhas em massa para reverter a baixa cobertura vacinal voluntária da população ou para imunização de indivíduos residentes em áreas de surtos onde a vacinação não era mandatória.

 

Faz sentido a preocupação de parte da população com a segurança da vacina?

Não. A vacina contra a febre amarela é uma das vacinas mais seguras que conhecemos. A ocorrência de eventos adversos é extremamente rara, com registros de 1 caso a cada 400mil doses aplicadas.

 

Como a população pode se prevenir contra a febre amarela?

A melhor forma de prevenção é a vacinação. Pessoas que têm contraindicação (imunosuprimidos, pacientes em terapia imunomoduladora, portadores de doenças autoimune e pessoas com alergias ao ovo) devem evitar o contato com ambientes silvestres e aplicar medidas repelentes de mosquitos, observando as recomendações de cada fabricante em relação ao prazo de ação efetiva de cada produto.

 

A febre amarela tem cura? Como é desenvolvido o tratamento da doença? A rede pública dispõe dos medicamentos em quantidade suficiente?

Não existe medicação específica para o tratamento etiológico da febre amarela. O tratamento atual baseia-se em terapia suportiva, visando manter o estado geral do paciente sob controle. Os casos mais graves chegam a óbito rapidamente. Casos mais leves e moderados podem evoluir para alta. Acredita-se que a recuperação do paciente esteja principalmente relacionada à carga viral recebida na infecção e ao estado imunológico do paciente.

 

Como acontece a resposta inflamatória contra o vírus da febre amarela?

A resposta inflamatória contra o vírus da febre amarela, na grande maioria dos pacientes, ocorre a partir do reconhecimento do vírus no organismo. Esse reconhecimento induz à produção de moléculas antivirais, como interferons, que estimulam a produção de outras moléculas pró-inflamatórias, constituindo a imunidade protetora contra o vírus.

 

As respostas inflamatória e imune estão associadas com a evolução para os casos graves da febre amarela?

A participação das respostas inflamatória e imune na evolução para os casos graves da febre amarela ainda é controversa porque a presença das células inflamatórias, como linfócitos, macrófagos e neutrófilos é usualmente discreta e desproporcional ao dano nos órgãos, como o fígado. Especificamente no fígado, há apoptose e discreto infiltrado inflamatório linfocitário portal associado à expressão das citocinas interferon gama (IFN-γ), fator de necrose tumoral (TNF-α) e fator de transformação do crescimento (TGF-β).

O que é a febre amarela silvestre?

É uma doença infecciosa febril aguda, causada pelo vírus da febre amarela (transmitido por mosquitos). A doença é comum em macacos, que são os mais afetados pelo vírus.

Qual é a diferença entre a febre amarela silvestre e febre amarela urbana?

A diferença entre elas é o vetor: na cidade a doença é transmitida pelo Aedes aegypti, o mesmo mosquito que transmite a dengue. Na mata, os mosquitos do gênero Haemagogus transmitem o vírus. Apesar disso, o vírus transmitido é o mesmo, assim como a doença resultante da infecção. Desde 1942, o Brasil não registra casos de Febre Amarela urbana.

Como a doença é transmitida?

A febre amarela silvestre é transmitida através da picada de mosquitos Haemagogus, que vivem em matas e vegetações. Quando o mosquito infectado pica um macaco, o mesmo adoece e torna-se uma fonte de transmissão do vírus para outros mosquitos. Esses mesmos mosquitos infectados podem picar o homem que entra em contato com a área de transmissão.

Qualquer pessoa está em risco de contrair febre amarela silvestre?

Sim. Qualquer pessoa que não tenha sido vacinada que viva ou visite áreas onde há transmissão da doença, pode ter febre amarela, independentemente da idade ou sexo.

A febre amarela é contagiosa?

A doença não é contagiosa, ou seja, não há transmissão de pessoa a pessoa. É transmitida somente pela picada de mosquitos infectados com o vírus.

Qual a época do ano que a doença é mais comumente registrada?

Estudos têm demonstrado que a doença ocorre com maior frequência nos meses de dezembro a maio. É a estação das chuvas e temperaturas elevadas, quando há um aumento das populações de mosquitos, favorecendo a circulação do vírus.

 

Elaborado pelos Drs. Marcelo Pascoal, Olindo Assis, Pedro Alves e Carlos Calzavara

Fonte: Blog da Saúde – Ministério da Saúde

Fonte: CPQRR/FioCruz

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