Unesco Brasil: educação de qualidade para todos

Educação

Publicado em Entrevista & Opinião no dia 22/07/2014

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) foi criada em 1945, logo após a segunda guerra mundial, com a premissa de que, se a guerra nasce na mente dos homens, é na mente dos homens que devem ser construídas as defesas da paz.

Hoje, a Unesco conta com 195 países membros, que se reúnem a cada dois anos, em uma Conferência Geral, para discutir e deliberar sobre importantes questões nas áreas de educação, ciências naturais, humanas e sociais, cultura e comunicação e informação.

Além disso, a entidade promove estudos, reflexões e reuniões com governos, dirigentes e especialistas dos países que a integram com o objetivo de aprofundar o exame de temas vitais para o futuro das sociedades – buscando consensos, definindo estratégias de ação e subsidiando o desenho de políticas públicas.

Presente aqui desde 1964, a representação brasileira da Unesco tem feito importante trabalho para melhorar a qualidade de vida da nossa população ao apoiar projetos para a redução das desigualdades sociais e melhoria do ensino no país, entre outros.

Na entrevista abaixo, Marlova Noleto, diretora da área programática da organização no Brasil fala mais sobre os principais desafios e conquistas da Unesco nas últimas décadas.

Quais são as principais áreas de ação da Unesco no Brasil?
A atuação da Unesco no Brasil acontece por meio de projetos de cooperação técnica com o governo, mas também com a iniciativa privada e a sociedade civil. E não se restringe somente ao âmbito nacional. A experiência reunida em projetos de combate à pobreza, analfabetismo, inclusão social, entre outros temas, começa a ser compartilhada por outros países da América Latina e da África. Nesse sentido, novas frentes de intercâmbio são sempre abertas com outras nações, disponibilizando o conhecimento obtido em ações bem-sucedidas do Brasil.

Em que projetos a entidade está envolvida no momento no país?
Há alguns anos, a Unesco alterou o escopo da atuação da organização, mais voltado para a produção de subsídios – diagnósticos e indicadores para monitoramento e avaliação, por exemplo – visando à formulação e à qualificação de políticas públicas em suas cinco áreas de atuação. A relação com o setor privado também foi fortalecida e bons resultados têm gerado novas aproximações com parceiros interessados, sobretudo, na capacidade da entidade em agregar valor às ações de responsabilidade social corporativa.

Quais são os principais desafios enfrentados no trabalho em solo brasileiro?
Um dos maiores programas que temos em andamento no Brasil é o de educação, embora as demais áreas também contem com amplo portfolio de projetos. Na educação, o país ainda tem muitos desafios a enfrentar, mas registre-se que enormes esforços e progressos foram feitos nos últimos anos, em especial em relação ao acesso à educação, financiamento, formação dos professores, redução do analfabetismo e melhoria da qualidade do ensino. Outro aspecto importante avançado é em relação à avaliação dos resultados de suas políticas.

Qual a importância de se investir em projetos que visem à melhoria da educação em um país com graves problemas neste setor como o Brasil?
A condição de país federado coloca muitos desafios para os avanços em educação no Brasil. Não basta o Ministério da Educação, por exemplo, tomar ações nacionais que visem à melhoria da qualidade da educação, quando governos estaduais e municipais têm parcela grande de responsabilidade neste processo – uma parcela determinante, podemos dizer. Então é o conjunto de esforços que produzirá resultados positivos. Neste contexto, é grande a relevância de projetos que contribuam para objetivos comuns no sentido de melhorar índices educacionais em todo o país. A responsabilidade é compartilhada, e quanto mais contribuições tivermos nesse processo, melhores serão as condições de respondermos aos desafios globais contemporâneos.

Qual é a grande bandeira da Unesco no tema da educação?
Aliar a universalização do ensino a uma educação de qualidade. Este desafio, vale dizer, não é exclusividade do Brasil. Outros países também avançaram muito quanto ao acesso das crianças às escolas. Isso não significa, no entanto, que essa educação seja necessariamente de qualidade. Por isso dizemos que nossa responsabilidade é não apenas com uma “educação para todos”, mas sim com uma “educação de qualidade para todos”. Isso envolve, obviamente, uma complexa divisão de responsabilidades e novos arranjos federativos para se cumprir projeto tão ambicioso.  Muitas vezes os problemas não estão na falta de recursos, mas na forma e onde se alocam os recursos para programas de educação.

Como a organização tem permeado o tema sustentabilidade nos projetos em desenvolvimento?
Acreditamos que o conceito de sustentabilidade apoia-se em três pilares básicos: econômico, social e ambiental. Os projetos que a Unesco desenvolve no Brasil, em todas suas áreas de atuação, consideram estes pilares combinados como pano de fundo para sua operação. Seja em programas de desenvolvimento social, educação, cultura, ciência, meio ambiente ou comunicação, a Unesco procura apoiar o desenvolvimento de capacidades humanas e institucionais, assim como contribuir com a elaboração de políticas para o país que proporcionem melhorias na vida das pessoas. Nas Nações Unidas, a Unesco é responsável pelo cumprimento das diretrizes da Década para a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014). Na visão da entidade, não há como se trabalhar os grandes desafios ambientais do século XXI – mudança climática, gestão de recursos hídricos e esgotamento de recursos naturais – sem um trabalho de fundo que envolva mudança comportamental por meio da educação. Esta, sim, é o grande motor de mudança e daí sua implicação em um modelo civilizatório que seja viável e sustentável a longo prazo.

Direitos humanos é uma questão que ainda precisa ser muito trabalhada aqui ou já houve grandes avanços nesta área?
Não temos dúvida que grandes avanços foram registrados na área de direitos humanos no Brasil. Mas também reconhecemos que há muito a ser feito. O setor de Ciências Humanas e Sociais da Unesco trabalha exatamente a promoção de cooperação intelectual para facilitar transformações sociais no país, alinhadas aos valores universais de justiça, liberdade e dignidade humana. Essa é nossa contribuição para que o Brasil avance ainda mais: cuidar dessas premissas em cada projeto nos temas nos quais atuamos, que são inclusão social, redução da pobreza e das desigualdades, juventude e prevenção da violência, relações étnico-raciais e de gênero e esporte e ética. Mas certamente, o governo brasileiro tem promovido importantes conquistas. Ter a luta contra a discriminação homofóbica, a inserção dos direitos dos idosos, pessoas com deficiência e crianças e adolescentes na pauta nacional são exemplos claros de como estes temas avançaram no país e fazem parte das conversas do dia a dia de qualquer cidadão.

Fonte: Planeta Sustentável/Abril

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