15/06/2016 | Fonte: ONU BR

UIT: tecnologias podem reduzir desigualdades e colocar o mundo no caminho rumo à Agenda 2030

UIT: tecnologias podem reduzir desigualdades e colocar o mundo no caminho rumo à Agenda 2030
Foto: ACNUR Innovation

Até 2030, empresas de tecnologias da comunicação e informação (TICs) poderão lucrar mais 2,1 trilhões de dólares em dividendos anuais caso invistam em serviços para a promoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Parte do montante – 400 bilhões – seria resultado do acesso de 2,5 bilhões de novos usuários a serviços de comunicação.

Os números são de um novo relatório publicado nesta terça-feira (14) e financiado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) e parceiros. O documento — elaborado pela Iniciativa Global de e-Sustentabilidade e a consultoria Accenture Strategy — destaca a importância das TICs para o cumprimento da Agenda 2030.

O levantamento estima que cerca de 1,6 bilhão de pessoas poderiam ter acesso a serviços médicos de maior qualidade e mais baratos através da associação entre cuidado e tecnologia — em iniciativas que envolvem desde a difusão de informações sobre saúde para consumidores por meio da internet até o treinamento de novos profissionais.

Soluções digitais para aprimorar o trânsito de veículos permitiriam evitar 720 mil mortes em acidentes em estradas e prevenir 30 milhões de episódios de ferimentos.

O uso das TICs possibilitaria ainda reduzir em cerca de 20%, até 2030, as emissões de gás carbônico, contribuindo para a mudança do mercado rumo a fontes de energia renováveis. O investimento em tecnologia associado à industrialização de países menos desenvolvidos também conseguiria reduzir em até 70% o consumo anual de petróleo e poupar 330 trilhões de litros de água.

Na agricultura, a otimização do gerenciamento das plantações, a automatização de serviços de irrigação, o uso de sensores no solo e o aproveitamento de informações climáticas fornecidas por satélites em tempo real promoveriam, até 2030, um aumento das safras de até 900 kg por hectare.

Na educação, a criação de oportunidades de aprendizado online e de plataformas abertas e a expansão da aplicação de recursos digitais, como videoconferências, realidade aumentada e games, poderiam formar até 450 milhões de indivíduos em programas educativos intimamente vinculados às TICs.

Os benefícios são particularmente interessantes quando considerado o atual estado da educação global: nos países menos desenvolvidos, 30% dos meninos e meninas não completam a educação primária; nas regiões em desenvolvimento, 10% da população não sabe ler, nem escrever; nas nações desenvolvidas, 14% dos adultos não concluiu a educação secundária.

De acordo com o relatório da UIT e seus parceiros, todos os países apresentam lacunas em mais da metade dos ODS. Em mais de um quarto de todos os Estados-membros, todos os Objetivos registram defasagens.

Para cada ODS, uma solução digital diferente

O documento indica soluções baseadas nas TICs para diversos obstáculos à Agenda 2030 da ONU. Um dos exemplos citados é o investimento em conectividade voltado para mulheres e meninas — medida capaz de prepará-las para exercer atividades econômicas e, dessa forma, empoderá-las.

Estimativas da Comissão Europeia indicam que, em breve, 90% dos empregos no continente vão exigir “algum nível de habilidade digital”. Até 2020, cerca de 800 mil postos deixarão de ser preenchidos por falta de pessoal adequadamente treinado.

 

Acesso à internet e à tecnologia pode empoderar meninas e capacitá-las para atividades econômicas. Foto: ACNUR Inovação

Foto: ACNUR Inovação

Nos países em desenvolvimento, o aumento do acesso à internet para 600 mil mulheres estaria associado a um incremento de 13 a 18 bilhões de dólares anuais no Produto Interno Bruto (PIB), segundo o relatório.

No geral, o crescimento em 10% da penetração da banda larga levaria a uma aumento de até 1,38% do PIB, associado a novas formas de trabalho — o que assinala o potencial das TICs para a promoção do crescimento econômico e da criação de empregos.

O relatório destaca ainda as futuras contribuições das TICs para tornar as cadeias produtivas mais eficientes e para proteger o meio ambiente. Métodos de cultivo inteligentes poderiam poupar 251 trilhões de litros de água em 2030 e reduzir em até 20% o desperdício de alimentos.

Ao mesmo tempo, a utilização das TICs para o monitoramento das zonas costeiras e dos ecossistemas marinhos beneficiaria até 32% das áreas litorâneas com soluções inovadoras para garantir a conservação dos biomas.

‘Revolução tecnológica não vai acontecer de forma automática’

As projeções positivas do relatório, porém, só vão se tornar realidade caso decisores políticos, organizações multilaterais e não governamentais e o setor privado se comprometam a combater lacunas de infraestrutura e promover a padronização da tecnologia a nível global.

O documento alerta que a “revolução tecnológica não vai acontecer automaticamente”. Entre os motivos, estão restrições associadas ao fornecimento de tecnologia — como a ausência de infraestrutura para conectividade e a incompatibilidade entre padrões tecnológicos nos países menos desenvolvidos e em desenvolvimento — e à demanda por produtos das TICs — como preços elevados, falta de habilidades digitais, desigualdades de gênero e baixas taxas de alfabetização.

A importação de programas e hardware que chegam às nações em língua estrangeira também foi citada como entrave à utilização dessas tecnologias por populações de diferentes partes do mundo.

O Brasil foi elogiado no relatório por isentar computadores de impostos, deixando de receber 3,5 bilhões de reais em receitas fiscais no ano passado. O país acredita, no entanto, que a decisão é compensada pelo aumento na produção, nas vendas e nos empregos do setor.

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