13/12/2017 | Fonte: Simone Kafruni | Correio Braziliense

Brasileiro é o povo mais insatisfeito do mundo no quesito infraestrutura

A média global de insatisfeitos com a infraestrutura de cada país é de 30%. O Brasil, com 60% dos entrevistados desgostosos, lidera o ranking

Foto: EsdeavorBrasil

Os brasileiros são os mais insatisfeitos com a infraestrutura, revela estudo da Ipsos, empresa independente na área de pesquisa de mercado presente em 88 países. O levantamento, realizado em 28 nações, descortina a incômoda posição do Brasil — líder nos aspectos negativos e ocupando as últimas posições nas avaliações positivas. Para especialistas, os dados refletem a má gestão dos projetos.

A média global de insatisfeitos com a infraestrutura de cada país é de 30%. O Brasil, com 60% dos entrevistados desgostosos, lidera o ranking, seguido por África do Sul (51%), Sérvia (49%) e Itália (43%). Na avaliação contrária, ou seja, das pessoas contentes com a situação nacional, os brasileiros estão em penúltimo lugar, com apenas 19%. O pior dado é a lanterna brasileira no item qualidade das rodovias, bem classificada por somente 29%, muito atrás do penúltimo país da lista, a Hungria, com 41%.

Para Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos, o levantamento retrata uma realidade histórica. “O Brasil sempre teve infraestrutura precária. Houve fases de mais investimento, mas nunca algo contínuo e sustentável”, avaliou. Segundo ele, a insatisfação é maior do que em outros países, porque o Brasil passou por um período em que parecia que os gargalos seriam mitigados, com promessas de investimentos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. “Criou-se uma expectativa que não se confirmou”, disse. Cersosimo assinalou que a má gestão dos recursos resulta em desconfiança muito grande em relação às obras, por conta de corrupção, atrasos, planejamento ruim e projetos inacabados.

A pesquisa revelou que os aeroportos são melhor analisados com 68% de avaliação ótima ou boa na média global. Lideram o ranking África do Sul (83%), Índia (81%), Colômbia (81%) e Nova Zelândia (79%). Na avaliação da qualidade dos aeroportos, os brasileiros ocupam a última colocação, com 47%. Para o diretor da Ipsos, isso ocorre porque, no Brasil, não se discute infraestrutura sob a ótica de política pública e de desenvolvimento sustentável. “Só se fala de grandes obras para geração de emprego. O argumento é bem utilitarista”, analisou.

A qualidade da internet banda larga teve percentual global de 56% favoráveis, com Sérvia, Coreia do Sul e Índia no topo: 74%, 73% e 72%, respectivamente. O Brasil ficou com 37%, à frente apenas de Itália (35%) e Austrália (32%). “Surpreende ver países mais desenvolvidos menos satisfeitos, mas o nível de exigência é maior. A tendência, no caso da internet, é avaliar mais o serviço do que a infraestrutura”, justificou Cersosimo.

Para Marlon Ieiri, especialista em infraestrutura do escritório L.O. Baptista Advogados, o problema é que o país não investe na manutenção da infraestrutura, que acaba se deteriorando. “As concessões antigas estão sendo devolvidas por modelagens erradas. Agora, como o governo não tem dinheiro para investir, permite retorno maior do investimento para atrair a iniciativa privada. Mas precisamos melhorar a qualidade dos projetos”, avaliou. “Envergonha ver a colocação do Brasil nesse ranking, porque se gasta muito dinheiro, porém de maneira ineficaz. E a má gestão é pior do que a corrupção, porque duplica, triplica o valor dos projetos.”

A pesquisa ainda abordou o grau de satisfação da população mundial ao viajar de carro. No ranking, o Brasil é um dos últimos colocados com 51% versus média global de 61%. O país também ocupa as últimas colocações nas viagens de metrô, com 51%. Nos meios de transporte, a melhor posição brasileira é nas viagens de ônibus, com satisfação de 50%, próxima da média mundial (53%).

Voltar